As bem-aventuranças (Parte I)
O Sermão do Monte, também chamado de Os Estatutos do Reino foi o primeiro de alguns ensinos aos quais Jesus Cristo propagou em Seu ministério. Aqui há uma reunião entre o Mestre e seus discípulos, todavia, é bom esclarecer que discípulos nesse momento do ministério de Cristo não condiz apenas com seus apóstolos, mas sim, deve ser entendido como todos os seguidores de Jesus Cristo.
O Sermão do Monte, traz uma de uma maneira sutil, um estilo de vida que o Rei Jesus quer que seus súditos (discípulos) vivam, já que no início do Sermão do Monte o discipulado de Jesus com a multidão já é algo real.
Assim, começam-se todas essas instruções com as Bem-Aventuranças, onde bem-aventurado é alguém feliz com uma felicidade transcendental ao que participamos nessa vida terrena. Essa felicidade vem do alto; vem de um reino não humano, de um rei não humano; mas de um reino sobrenatural onde o Seu Rei é divido: Jesus Cristo!
Você e eu temos experimentado essa felicidade? Sim! Não? Após esses estudos das bem-aventuranças nós poderemos responder às essas questões de forma honesta e convicta, e se, de antemão, a resposta for não, temos a chance de através do Espírito Santo conhecer essa bem-aventurança nos ensinada pelo Rei da glória (Salmos 24.10).
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mateus 5.3)
Antes de iniciarmos os comentários sobre esse versículo seria de muito agrado sabermos um pouco mais sobre os substantivos pobres e espíritos:
1. Pobres: nesse caso é um sentido literal relacionado à simplicidade espiritual, em contraste com a arrogância que geralmente se caracteriza em pessoas ímpias e ricas;
2. Espíritos: esse espírito citado é concernente ao homem (ser humano) e tem por significado indicar o princípio vital ou energia de vida do homem.
O termo sobre pobres em espírito só encontramos nessa passagem no decorrer de toda as Escrituras e refere-se à uma expressão semítica¹ e faz uma ligação com outra bem aventurança no qual é a bem aventurados os limpos de coração.
A pobreza relatada nesse versículo, como já vimos em sua etimologia, é ao espírito do homem, ou seja, no seu interior e/ou no seu íntimo, no qual então a pobreza é uma metonímia². Poderíamos muito bem traduzir esse versículo para algo do tipo bem aventurados àqueles que reconhecem depender inteiramente de Deus e A Ele se entregar totalmente. Cristo, mais adiante no Sermão da Montanha, faz uma antítese³ quando fala de doutores e mestres: "Aquele que se exaltar será humilhado, mas aquele que se humilhar será exaltado" (Evangelho de Mateus 23.12).
Pobres em espírito são aqueles que tem uma conduta oposta à dos fariseus, que são orgulhosos em usar auto confiança, de serem superiores e pretensiosos em querer gerar sua própria salvação. Ainda no Sermão do Monte, Cristo se opõe a eles: "Porque vos digo, se a vossa justiça não exceder à dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus" (Evangelho de Mateus 5.20). Esse versículo nos chama a atenção para sermos justos não para mostrarmos para as pessoas o que somos, mas sim, porque somos totalmente dependentes de Cristo.
Precisamos nos humilhar para que Cristo nos exalte no momento certo, para os fins certos, não uma exaltação humana, mas uma exaltação quem vem dos Céus e que nos dê direito a entrar em Seu Reino. O preço já foi pago na cruz, somos lavados e remidos, precisamos agora após a sua morte e ressurreição permanecermos pobres em espírito e citando 2 Coríntios 12.10: "Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco sou forte"
Bem-aventurados os limpos de coração (Mateus 5.8)
A pureza dos corações encontram-se nos salmos e também nos profetas. A pureza citada no v. 8 é de ordem moral. Cristo se cita o Salmos 24.4-6 onde contém a expressão coração puro. Essa expressão no Salmos indica a pessoa que se encontra diante de Deus com toda honestidade e sinceridade. Vejamos esse Salmos:
1 De Iahweh é a terra e o que nela existe, o mundo e seus habitantes;
2 Ele próprio fundou-a sobres os mares e firmou-a sobre os rios.
3 Quem pode subir à montanha de Iahweh? Quem pode fica de pé no seu luga santo?
4 Quem tem mãos inocentes e coração puro, e não se entrega à falsidade
5 Ele obterá de Iahweh a benção, e dos seu Deus salvador a justiça.
6 Esta é a geração dos que o procuram, dos que buscam tua face, ó Deus de Jacó.
7 Levantai, ó portas, os vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o Rei da Glória!
8 Quem é este o Rei da Glória? É Iahweh, o forte e valente, Iahweh, o valente das guerras.
9 Levantai, ó portas, os vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o Rei da Glória!
10 Quem é este o Rei da Glória? É Iahweh dos Exércitos, ele é o Rei da Glória
Salmos 24 - Bíblia de Jerusalém
Salmos 24.1-2: nos mostra o Senhor como o Criador de tudo o que existe e isso sendo de Sua propriedade;
Salmos 24.3-6: liturgia de entrada, falando sobre o que têm por direito entrar na casa do Senhor por serem puros de coração, honestos e de palavra;
Salmos 24.7-10: retorno do Senhor vitorioso à sua morada.
Assim como Cristo no evangelho de João (4.23-24) ensina a mulher samaritana a verdadeira forma de adoração, em espírito e em verdade, a pureza do coração é um contraste à impureza que também vem do coração, ou seja, o bem e o mal vem de dentro para fora e não ao contrário. Assim mesmo Paulo nos adverte: "Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero esse eu faço. Ora, se faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim" (Romanos 7.19-20). Concernente ao pecado, é bom salientar que já nascemos pecadores, pois nascemos fora do Éden, portanto, nascemos expulsos; assim dentro das Leis de Deus que é a expressão de Sua total vontade, temos duas formas:
Lei elemental: é a lei gravada nos elementos substanciais e forças da criação que seriam a criação racional (lei moral) ou irracional (lei física ou natural);
Determinação positiva: expressão da vontade de Deus, nas ordenanças publicadas, podendo ser através dos preceitos morais gerais ou ordens cerimoniais e especiais.
Outrossim nossa moral está em nossa mente e nasce juntamente com o ser humano, enquanto que a ética está no geral, é um conjunto de valores e desses dois saem nossas definições do pecado. Na prática cristã a pureza do coração qualifica os discípulos de Cristo cujo parecer cristão reflete no ser cristão.
"Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (2 Coríntios 11.1)
CONCLUSÃO
Ser pobre de espírito não pode adquirir uma falsa modéstia; porquanto somos dependentes de Jesus Cristo e só aí já tira de todos nós o empoderamento que o ser humano tanto almeja, porque sem Ele nada do que seríamos poderia ser real não é mesmo? Então que deixemos Ele mostrar-nos qual a melhor forma de agir; pensar e ser e assim teremos o nosso real galardão.
GLOSSÁRIO
¹ Semítica: esse termo tem como principal designação o conjunto linguístico composto por uma família de vários povos, entre os quais, se destacam os árabes e hebreus que compartilham as mesmas origens culturais. A origem da palavra semita vem de uma expressão do livro de Gênesis e referia-se a uma linhagem de descendentes de Sem, filho de Noé.
² Metonímia: figura retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, por ter uma significação que tenha uma relação objetiva, de contiguidade, material ou conceitual, ou o referente ocasionalmente pensado.
³ Antítese: palavra que vem do grego para oposto a criação. É uma figura de linguagem que consiste na exposição de ideias opostas. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões opostas.
Comentários
Postar um comentário